Até tú, Oslo?

Hércules Rodrigues de Oliveira
Professor universitário

A tragédia que se abateu na silenciosa Oslo - que desde 1901 é sede da entrega do Prêmio Nobel da Paz - chamou a atenção do mundo sobre a prática do terrorismo. A Noruega que integra a região dos cinco estados-nação (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) é conhecida como um país nórdico, cuja melhor representação se faz presente na imagem dos vikings e pela bandeira comum a todas elas, que estampa a cruz com um braço alongado, conhecida por "cruz escandinava", símbolo dos cavaleiros templários. A Noruega é um país cristão que tem, em Santo Olavo, o seu protetor.

E foi na Escandinávia que o terrorismo mais uma vez mostrou uma de suas diferentes faces. Acostumados que somos as notícias vindas das escaldantes areias do deserto, eis que surge o terror nas gélidas e profundas aguas do atlântico norte, dizendo que o terrorismo não tem fronteiras. Para os leitores das histórias em quadrinhos (HD) Hagar, o protagonista viking - personagem do cartunista estadunidense Richard Browne - realmente se mostrou horrível.

Quando da explosão do carro bomba próximo a sede do governo norueguês, e logo a seguir, o massacre de jovens no acampamento de verão na ilha de Utoeya, a propaganda midiática internacional logo associou o fato aos fundamentalistas islâmicos, como se o islã fosse a personificação de todo o mal, no entanto, para surpresa, o terrorista era um genuíno viking, Anders Behring Breivik, que não se matou e entregou-se pacificamente as forças de segurança, assumindo seus atos e divulgando documento de sua autoria de mais de 1500 páginas intitulado: "Manifesto pela Independência Europeia - 2083", assumindo ser fundamentalista cristão, caçador de marxistas, crítico ao que considera a islamização da Europa, contrário ao avanço do multiculturalismo, defendendo o que considera uma "Cruzada Moderna".

Para Anders Breivik, o Diabo é estrangeiro. Galeano explica que o "culpômetro indica que o imigrante vem roubar nosso emprego, e o perigômetro dispara a luz vermelha", neste caso, uma arma automática com munição especial que ao se fragmentar no corpo da vítima, provoca inúmeros danos. Munição típica das unidades de combate antiterroristas. Então, assistisse perplexo um país considerado, segundo relatório do Jornal The Economist, em 2007, detentor de elevado Índice Global da Paz e, pela ONU em 2010, como o melhor país do mundo para se viver, se permitir a intolerância ideológica e contrária à ideia de um mundo globalizante.

O pensamento nacionalista muitas vezes xenófobo promove atitudes radicais contra a imigração, que se para alguns é negativa, para outros traz prosperidade, pois promove inovação e dinamismo, bem como diminui à escassez de mão de obra. Países ricos estão lutando por medidas anti-imigração. Os Estados Unidos constrói um muro na fronteira mexicana. O muro da Cisjordânia ratifica a ocupação de Israel em terras palestinas. O muro de Ceuta e Melilla impede que os africanos cheguem à Europa.

Nas páginas do manifesto pela independência europeia, o autor cita o Brasil como um mau exemplo em face de nossa capacidade multicultural e de miscigenação, que promove, segundo ele, falta de coesão interna, o que mostra que nosso modo de vida está de certa forma incomodando o pensamento daqueles que fomentam o etnocentrismo selvagem, típico de psicopatas como foi o caso de Wellington Menezes de Oliveira, que em abril de 2011, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo/RJ, matou 13 crianças e feriu outras 22.

Certamente que a distante Noruega deverá estar presente nos estudos da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), para prospectar o fenômeno do terrorismo internacional e se de alguma forma, nossa gente poderá ser alvo de atentados daqueles que não se conformam com nosso modo fraterno de ser e de viver.