OLHOS PARA A INTELIG??NCIA

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Hércules Rodrigues de Oliveira - Professor da Faculdade Novos Horizontes

Meu amado e saudoso pai Affonso - ele assinava Afonso com apenas um efe, apesar da certidão de nascimento estar grafada com dois. O sentido da sua negativa não induzia a modernidade da língua portuguesa, mas a falta da �nobreza�, que entendia não possuir. Como se Fernando Affonso Collor de Mello a tivesse. Apesar de ter deixado nosso mundo há um ano, sua frase predileta ecoa tão forte como sua presença em meus pensamentos, a de que nada acontece por acaso.

A mitologia, narrativa dos tempos imemoriais, não foi criada por acaso, ela surgiu diante de uma necessidade humana de conhecer nossa ancestralidade e buscar respostas às perguntas que nos fazemos diuturnamente, razão pela qual eles passaram a governar nossas vidas, apesar dos exemplos muitas vezes, nada edificantes, mas nos legaram, entre outras coisas, o sentimento romanesco da imortalidade.

Foi no semideus Argos que Zeus depositou sua confiança na proteção do Olimpo, adotando-lhe de capacidade de tudo ver (mil olhos) e conhecer (argúcia), para que com essas ferramentas assessorasse o rei dos deuses, o senhor dos céus e do trovão, mostrando-lhe oportunidades e ameaças, como a de Hades (deus dos infernos) que roubou a deusa Aurora, para não anunciar o sol e o mundo permanecesse nas trevas. Argos era o �olhos� da Inteligência.

Mas nada acontece por acaso. ?? na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que o estado brasileiro depositou sua confiança neste Argos moderno, na medida que a sociedade a percebe atuante e ousada no combate a todas as ameaças ao nosso modo fraterno e ser e de viver. Credita-se a este núcleo de Intelligentsia - grupo de pessoas engajadas em trabalho intelectual e criativo - a capacidade laborativa em fornecer subsídios à timoneira da nação frente ao mundo globalizado e aos interesses estrangeiros sobre nossas riquezas na tentativa de frear nossa capacidade de avanço no cenário mundial, fato que não há mais volta, ou seja: �point of not return�.

De todos os players internacionais, os Estados Unidos (EUA) foi a nação que certamente mais influenciou nossos corações e mentes, promovendo muitas vezes o sentimento cunhado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, em agosto de 2012 comemora-se o centenário de seu nascimento, a �síndrome do vira lata�, a sensação de inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.

Desafortunadamente percebemos que ainda vivemos sobre a égide do �destino manifesto�, a crença de que o povo estadunidense foi eleito por Deus para comandar o mundo, a despeito dos judeus terem sido por Ele o povo verdadeiramente escolhido. Anteriormente ao destino manifesto, a Doutrina Monroe, de 1823, repudiava a intervenção europeia em países do continente Americano, firmando na frase o uso da preposição: A América �para� os americanos, hoje, para a surpresa global, a preposição se fez verbo: A América �para� os americanos, e aí deparamo-nos com o Brasil, um obstáculo por eles a ser transposto.

Mas o refrão continua a de que nada acontece por acaso. Depois de longo tempo o governo dos EUA resolve retornar com o consulado na Região das Minas do Ouro, facilitando com isso a aquisição de vistos (imposição que já deveria ser desnecessária) para o acesso de mais brasileiros, as Terras do Tio Sam, mas que em contrapartida poderá creditar nas Minas Gerais oficiais de Inteligência do governo norte-americano, até mesmo na clandestinidade, para a prospecção de nossas riquezas, promover em médio prazo, evasão de talentos, acompanhar nossas pesquisas tecnológicas, interferir no processo produtivo, mapear nosso progresso pela ação da Inteligência Econômica, com o intuito de verificar se realmente somos ou não somos ameaça real e imediata a sua primazia tecnológica no cenário internacional, evitando com isso surpresas tecnológicas.

Por isso, não sejamos ingênuos, pois passeios na Disney ou compras em Nova Iorque não nos fazem mais felizes. O que distingue o país pobre de um rico, não é ter mais ou menos bens tangíveis, mas sim a sua capacidade de gerar e salvaguardar conhecimentos científicos. Oh! Argos, olhai por nós!