General Augusto Heleno e a Atividade de Inteligência

Instituto Millenium

Por Fábio Pereira Ribeiro*

Toda transição de poder e governo, não necessariamente significa grande mudança para o país, principalmente em áreas sensíveis como por exemplo Defesa e Inteligência, inclusive considerando todos os aspectos de violência, fronteiras desguarnecidas e crimes transnacionais que assolam o Brasil.

Mas pelo que acompanho, percebo que a transição nas áreas, em especial a Inteligência, poderá ser muito positiva, salvo os alardes de uma mídia que parece desconhecer a própria Atividade de Inteligência, ou se mostra incompetente para pesquisar um pouco mais, e repete como um "papagaio" jargões de um passado que ainda persiste em apresentar unicórnios vestidos com camisetas do SNI (antigo Serviço Nacional de Informações).

Independente disso, a Atividade de Inteligência de Estado do Brasil, representada pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e coordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI-PR), parece que terá uma transição tranquila, e que a continuidade da modernização da atividade se consolide nos próximos dois anos com o mandado do Presidente Bolsonaro.

E essa continuidade tem respaldo na integração entre o atual e futuro comandantes do GSI-PR, os Generais de Exército Sérgio Westphalen Etchegoyen e Augusto Heleno Ribeiro Pereira. A prudência, inteligência, serenidade, diplomacia e visão estratégica dos dois generais efetivamente darão o rumo certo para a continuidade e consolidação das grandes transformações que a ABIN e o próprio Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) passam. O General Etchegoyen ajudou de maneira profissional e muito responsável a transformação da ABIN e sua verdadeira vocação enquanto responsável pela área, inclusive com o avanço da atividade no exterior através de postos juntos às embaixadas em países estratégicos para o Brasil, e para o mundo, como por exemplo França, China e Japão, sem contar a consolidação das inter-relações com outras agências de inteligência, principalmente nas pautas de terrorismo, crime organizado, narcotráfico e contrabando de armas. Importante destacar a fala do General Etchegoyen em seu último artigo publicado no dia 01 de dezembro de 2018 no jornal Estado de São Paulo em alusão aos 80 anos do GSI sob o título "Aos 80 anos, conquistas e desafios do GSI". O General afirma que "os progressos mais notáveis se deram no domínio da inteligência. Em pouco mais de dois anos pudemos iniciar a recomposição do quadro de pessoal da ABIN e expandir a sua presença internacional, hoje escorada em 20 aditâncias pelo mundo (vocação natural de uma agência de inteligência de Estado)". E o General ainda faz um alerta importante, "o Brasil precisa aprimorar continuamente reflexão e decisão acerca dos temais mais estratégicos". E nesse ponto chamo a atenção pela primazia profissional que o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira tem, principalmente no tocante à própria atividade de inteligência. O General Augusto Heleno tem vasta experiência de comando, inclusive em áreas sensíveis como Ciência e Tecnologia, que é de suma importância para a atividade de inteligência, além de atuação internacional. O mesmo já demonstrou inúmeras vezes seu apreço com a atividade de inteligência, e a plena continuidade da modernização da mesma, inclusive no último dia 3 de dezembro, disse à jornalistas que não é comum as trocas na estrutura de inteligência, até porquê a atividade de inteligência tem uma característica essencial em relação ao próprio silêncio, o tempo, principalmente o tempo de maturação e consolidação profissional da mesma em relação ao Estado de Direito. E outra coisa importante nesta transição, os dois Generais têm um diálogo muito profundo e amistoso, o que favorece todo trabalho realizado até agora, inclusive para uma projeção mais ampliada do planejamento estratégico da ABIN e do Plano Nacional de Inteligência (PNI).

Existem grandes especulações sobre a mudança de comando da ABIN, o que na minha opinião não deveria ser feita agora, pois os trabalhos realizados pelos atuais diretores, o Diretor-Geral Janér Tesch e o Diretor-Adjunto Frank Márcio de Oliveira são de suma importância para a modernização da agência, inclusive o desenvolvimento do real trabalho da atividade de inteligência sobre o atual contexto nacional e internacional, principalmente nos temas de tráfico internacional de drogas e armas, migração, terrorismo, lavagem de dinheiro, fuga de criminosos internacionais, controle de fronteiras, biopirataria, espionagem industrial e guerra cibernética, ganhou força nos últimos dois anos. Por quê mudar algo que avança e precisa consolidar? Vejo com preocupação "aventureiros" que se colocam como "opções", opções do quê? Da amizade? Serviço de Inteligência não é brinquedo de amigos, não esqueçam que a atividade gera reflexo diretamente à segurança da Nação.

A ABIN recebe o novo quadro de concursados para a formação, e uma mudança efetiva neste momento é um atraso, sem contar militares que de alguma forma estão totalmente distantes da visão do próprio General Augusto Heleno e se apresentam como inovadores ao melhor estilo SNI, esse passado já foi, o Brasil precisa de um serviço forte, ativo, no exterior e preocupado com pautas estratégicas do Brasil no mundo e em segurança com o mundo.

Percebo que para muitos da comunidade de inteligência, e para mim mesmo, o General Augusto Heleno é uma esperança continua do belo trabalho realizado pelo General Etchegoyen, e sua capacidade estratégica e de liderança proverá na atividade de inteligência um novo momento para o Brasil.

Complemento com um pensamento do General Etchegoyen em seu artigo no jornal O Estado de São Paulo, "a luz da experiência acumulada em 80 anos de atuação, e graças aos avanços obtidos nos últimos dois anos, parece claro que o Gabinete de Segurança Institucional está inteiramente capacitado para exercê-la a contento, mantendo em evidência o comportamento expresso no seu lema: "Trabalhar para a garantia da segurança do Estado Brasileiro", o que vou além, para a defesa da Nação, e acredito que o General Augusto Heleno tem em sua grande vocação militar, e principalmente como cidadão brasileiro, o pensamento de Nação. Que o mesmo tenha sucesso nesse novo caminho, o Brasil agradece!

*é especialista em inteligência estratégica e política internacional. Publicado no portal Medium.com